30 de setembro de 2011

Concha Hermética

Um vagabundo às vezes pode ter lapsos de responsabilidade. E no máximo o que se consegue falar objetivamente é dos seus pés e das pontas dos dedos. No mais, dá-se meia volta e continua-se dentro tentando se libertar da placenta, tentando cortar o cordão umbilical filosófico, poético, literário, sensitivo... Em eterno e inerte estado de concha hermética.


Em mais uma sexta-feira lá continua ele a repetir a velha própria frase de outros tempos. Pois gostar da vida do modo como ela é não é a mesma coisa que conseguir imaginá-la de uma maneira diferente. A vida capitalista tem como propósito a riqueza material; a vida amorosa, o amor; e a religiosa uma total devoção a entidade superior... E é somente assim que se faz uma das perfeições.

Sempre que as impressões tornam tudo imperfeito não se sabe ao certo se o que aconteceu realmente era o que tinha que acontecer, mas fica-se com a certeza relativamente absoluta de que o que aconteceu é apenas o acontecido.

Quando a vida se torna um referencial próprio, o norte que nos guia pode nos levar a lugar nenhum sempre causando surpresa por onde quer que ele vá. Se realmente não se pode encontrar a alma gêmea aos dez anos de idade, então o que é namoro? Se apegar a uma pessoa à medida que criamos uma rotina com ela? Não, não... Levar o hoje à sério como se ele já fizesse parte do passado.

Ao interromper a análise, cessa o transe ao deixar consciente mais um paciente de Freud que não foi curado. E sempre que parecer inevitável remediar, torne-se adepto do amor, porém, em pequenas doses. Assim fica mais fácil controlar.





Ricardo Magno

14 de setembro de 2011

Hemistíquio Herboso

Em versos incabados querendo ou não o acordo é firmado enquanto enfermeiros da morte estão mais preocupados é com a última rodada.


Sem o menor senso de responsabilidade, o porteiro mais parece o filho da puta de um gatekeeper a comandar a barca do inferno. No antro das bactérias calmamente chupa-se uma laranja no instante em que o nécta da vida de várias pessoas está indo embora.

O falso sermão é uma balança com medidas desiguais. Nos momentos raros ao fundo se via um olhar distante nos primeiros enlaces da partida de xadrez com a morte. E é nas horas impróprias que ela aparece dona de uma pontualidade britânica. Conhecer o acordo é não restar a menor dúvida de que o compromisso foi firmado.

Pra fazer piada em uma das entradas o compartimento do sabonete liquido, em ondas de calor, serve para o piscinão de vírus e trilhões de bactérias. Em estado de emergência o relógio não é mais um aliado. Cada segundo se torna único ao sentirmos a presença de partículas temporais da infinitésima parte.

Não se conter ao contar é usar a mesma estratégia de uma represa que abre uma de suas comportas para conter a enxurrado. E segura-se a bomba igual a alguém que tem a capacidade de absorver o impacto revertendo todo o efeito da explosão.

No resumo de tudo os dias passam na folha de um calendário incerto em que cada meia noite nos encurrala na intercessão da cruz simbólica de uma encruzilhada para um novo dia, aja vida ou morte, xeque-mate! Simulações não servem. Elas nunca trazem a verdadeira dimensão da realidade.

No intermédio para a funerária o serviço público não serve nem para colocar um band-aid. Reutilizado o risco é iminente de desenvolver uma infecção generalizada. Se o sofrimento é inevitável, ali ele se torna uma certeza e regra absoluta.





Ricardo Magno

Velhas idéias

Sempre após dar vida a uma de minhas crias, as ponho no berçário como se estivessem de quarentena, e é lá que lhes dou os últimos retoques. Um nariz, uma orelha... Deixá-las a cara do pai enquanto escrever é uma brincadeira que levo muito a sério.


Não querer o que todos querem não significa não querer nada. Não querer o que todos querem pode muito bem ser um belo e gigantesco sinal de vontade própria.

Pra sentir o que sinto nem sempre é necessário estar me expondo. Às vezes, sem que ninguém saiba, uma! Apenas uma sensação somente, vaga dentro de mim durante anos. O mesmo e velho sentimento sem que ninguém o note.

A questão vigente não é mais se aprofundar nos pensamentos e sim se libertar deles, porque é preferível aceitar os fatos a imaginar hipóteses.

Em um processo do processo cujo sou um ser inacabado, meu coração canta uma música e ela é psicodélica.

O universo de Hume e o próprio grande Hume fazem parte de uma noção complexa que um dia Derrida a de derrubar. No entanto, é somente através do desconstrutismo que batizo como o mecanismo mental que fez e agora desfaz o mundo, permitindo aos pensamentos se libertarem.

A deriva de qualquer uma das minhas forças internas, estou a naus num mar raivoso e sem dono sempre me deparando com portas que não condizem com a vida que desejo.

O cérebro trabalha igual a uma máquina em suas operações mentais vazias que chamamos de amor, na incessante busca de uma causa e as conseqüências de sua ausência.





Ricardo Magno